domingo, 28 de janeiro de 2018

Denúncia de assédio dentro do Corpo de Bombeiros ganha repercussão

Do jornal A Gazeta


A soldado Karla Samara luta desde o ano passado para provar que sofreu assédio sexual por parte de seu superior dentro do Corpo de Bombeiros. A corporação julga improcedente a denúncia. A defesa do capitão está processando a soldado por Danos Morais.


A denúncia ganhou publicidade nesta sexta-feira, 26, mas o caso começou no ano passado, quando a jornalista Karla Samara denunciou um suposto caso de assédio sofrido por ela como soldado do Corpo de Bombeiros do Amapá. O denunciado seria o capitão Helder Silva, então superior de Karla na corporação.  O acontecimento já passou pela Delegacia de Mulheres, Justiça e resultou em sindicâncias dentro do Comando Geral. A defesa do capitão nega todas as acusações.
Karla Samara deu publicidade ao assunto em sua conta no Facebook, expondo os prints das conversas entra ela e o capitão no WhatsApp, que sinalizava parte das acusações. Tão logo a jornalista se sentiu assediada, procurou a Delegacia das Mulheres, Promotoria De Justiça Criminal e Auditoria Militar e o Comando para denunciar o caso.
O documento encaminhado para os diversos setores envolvidos mostrava a ordem cronológica dos fatos, que segundo a denunciante, começaram durante uma viagem à Brasília: “o trabalho estava sendo realizado com satisfação, até a data de 01/06/2017, quando, de madrugada, no apartamento onde nos encontrávamos, naquela cidade, fui assediada sexualmente pelo Capitão Helder, servidor estadual do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Amapá, enquanto me deslocava do banheiro para o quarto, do apartamento onde estávamos hospedados, o referido capitão me abordou no corredor, me abraçou fortemente e tentou beijar-me, este fato e outros geraram um Boletim de Ocorrência na Delegacia da Mulher e a formalização de uma “queixa” entregue na Corregedoria do CBMAP no dia 26/06/2017”.
Karla Samara prossegue com o relato: “eu fiquei extremamente abalada, pois, me senti totalmente invadida em minha intimidade e liberdade sexual, desvencilhei-me do agressor e entrei em meus aposentos (...) não bastando, ser assediada pelo referido capitão, o mesmo começou a menosprezar o meu trabalho, cobrando um roteiro que já estava pronto, entre outras atitudes jornalísticas das quais ele não entende por não ter formação nessa área”. 
Primeira denúncia
A denúncia da soldado afirma que foi intimidada pelo capitão e que, apesar de ter exposto desde o início do caso, nada foi feito dentro da corporação.
“ As investidas não pararam, e no mesmo dia 26/06/17, o Capitão, após muito me caçar pelo quartel, me encontrou no fim do expediente na Secretaria do Comando Geral do Corpo de Bombeiros, em Macapá, o mesmo estava me pressionando para eu não denunciá-lo sobre o assédio sexual ocorrido em Brasília e que se repetiu em Macapá. As ligações e mensagens do capitão nesta data foram informadas por mim ao Subcomandante Geral, que nada fez a respeito disso”, disse Karla.
Casos 
Karla cita no documento outros casos de assédio vividos por companheiras de corporação, que também não foram, segundo ela, devidamente apurados. Em pesquisa feita para o Trabalho de Conclusão de Curso de Direito, feita pela denunciante, são apontados quatro casos registrados.  “Em todos os casos as vítimas são soldados feminino, a gente é perseguida quando denuncia, por isso que no intervalo entre 1995 e 2017 não houve denúncias, mas acontece o tempo todo”, disse Karla.
No documento oficial da denúncia, ela ainda diz: “nota-se a preocupação do Comando do CBMAP, por meio das sindicantes e da Corregedoria, em não punir os acusados e consequentemente favorecendo novos casos de assédio sexual além de outros crimes militares e transgressões disciplinares”.
Repercussão 
Ao expor nas redes sociais o caso, Karla Samara levantou uma onda de solidariedade à sua luta. Compartilhamentos de suas postagens e palavras de força repercutiram no Facebook. O Sindicato dos Jornalistas do Amapá( Sindijor) disse que já tem ciência do assunto e emitiu nota de apoio à colega.
“O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Amapá (Sindjor) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) repudiam todo e qualquer manifestação de assédio sexual e moral contra jornalistas. No caso específico envolvendo a jornalista, karla Samara, que é soldado do Corpo de Bombeiros e que exercia a função no setor de comunicação da instituição, o Sindjor e a Fenaj manifestam solidariedade e apoio.
Não compactuamos com qualquer situação de constrangimento, assédio ou outras meios, seja em menor ou maior grau, contra jornalistas. Estamos acompanhando o caso desde o dia 07 de Agosto de 2017.
Os jornalistas sejam em função pública ou privada devem ser respeitados em suas atividades, principalmente no exercício da profissão como reza a Legislação Federal.
A Diretoria”
A Ordem dos Advogados do Brasil também se manifestou através de uma de suas comissões presidida por Eraldo Trindade: “na qualidade de jornalista e advogado, estando presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/AP, coloco-me à disposição da nobre colega, para auxiliar no que estiver ao nosso alcance”.
Defesa do capitão
Quem responde juridicamente pelo capitão Helder é o advogado Diego Morpheu, que rebateu todas as denúncias de Karla e disse que o caso já foi julgado improcedente desde a Delegacia das Mulheres.
“No ano passado, a delegada que recebeu a denúncia encaminhou o que chamou de ‘importunação’ e não de ‘assédio’, ao Fórum e, na ocasião, já foi resolvido por meio de transação penal (acordo) entre as partes. Se fosse mesmo um assédio, não teria sequer possibilidade de acordo”.
“O caso foi discutido também na esfera administrativa, que respeitou o devido processo legal e a Declarante, acompanhada por uma excelente Advogada, juntou todos os documentos necessários, e, mais uma vez, foi concluído que não foi assédio.  Resumindo, se a Declarante ainda se sente injustiçada, deve procurar os meios legais e não publicar informações distorcidas na internet, pois aqui, no fervor da emoção, a pessoa é condenada em público sem chance de defesa”.
O advogado do capitão diz que a acusação de assédio é muito séria para ser tratada como foi pela soldado nas redes sociais. “A conclusão do assunto na polícia e das autoridades competentes reforçam a tese de inocência do meu cliente”.
Diego Morpheu disse ainda que, a partir de agora, dadas as circunstâncias, a defesa do capitão entrou com Ação de indenização por Danos Morais e Ação pelo crime de Difamação.
Bombeiros
A Comunicação do Corpo de Bombeiros divulgou um comunicado afirmando que, desde o recebido da denúncia, o processo administrado instaurado respeitou os princípios relativos ao devido processo legal consagrados na Constituição Federal e que, após apuração, não foi constatado crime de assédio sexual.
Emocional 
À nossa equipe do Jornal A Gazeta, Karla Samara disse estar emocionalmente abalada após esse tempo em processo: “Estou sem forças, depois de meses de luta, não sei como cheguei até aqui”.
Desde que a situação se agravou, a soldado encontra-se afastada de suas atividades nos bombeiros, mas responde por sindicância iniciada após sua denúncia do caso com o capitão ter sido apurada como improcedente pela corporação.  Se julgada culpada pelo Corpo de Bombeiros, a jornalista pode responder por crime militar.

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