segunda-feira, 20 de abril de 2015

19 de abril: comemorar o quê?


Olimpio Guarany


Foi o presidente Getulio Vargas quem decretou, em 1943, o dia 19 de abril como o Dia Nacional do Indio, numa alusão ao Congresso Americano para discutir a situação dos indios, realizado no México, três anos antes.
O que comemorar neste 19 de abril? É uma boa pergunta. Eu responderia: nada. 
Quando os portugueses chegaram aqui em 1500 e se encantaram com a exuberância das belezas naturais brasileiras já encontraram uma população numerosa de indios. O encanto ficou só com as belezas naturais, pois daí por diante a história já registrou. Indios foram escravizados, humilhados, quase dizimados. Só 400 anos depois é que alguém se preocupou em discutir os problemas indigenas, no congresso do México. No Brasil essa sensibilidade, ainda que tímida, veio com a criação do Parque Nacional do Xingú, em 1961, quando as primeiras terras indígenas foram demarcadas. Ao longo desses anos os índios tem sido explorados, vilipendiados, graças a ganância típica da sociedade capitalista. Estão a mercê das políticas  governamentais, nem sempre coerentes ou sérias. O certo é que um grande número de nossos índios vive em situação de pobreza, sem direito a escola, segurança ou mesmo moradia. Muitos foram expulsos de suas terras, sem direito a explora-la, mesmo para sua sobrevivência. Quando foi criada a Funai, se instalou uma expectativa de que os índios seriam melhor assistidos. A instituição que deveria estabelecer políticas de proteção às comunidades indígenas virou um cabide de emprego, com gente sem compromisso com a causa, e hoje praticamente inexiste. Resultado: fazendeiros, madeireiros entre outros vorazes continuam invadindo terras indígenas, destruindo sua cultura e matando sua gente.
O que me deixa inquieto é essa falta de rumo das já enfraquecidas políticas públicas para os indígenas. O que me deixa triste é que, nesse ritmo, num futuro não muito distante, nossas crianças vão saber da existência de índios somente através de fotos e registros na internet ou de uma visita a algum museu. Serão peças do passado. E aqui vale o recorte de um trecho da canção que saiu da sabedoria do poeta Jorge Benjor. Registra o lamento e nos leva à reflexão.
"Mas agora eles só têm um dia
O dia dezenove de abril
Amantes da pureza e da natureza
Eles são de verdade incapazes
De maltratarem as fêmeas
Ou de poluir o rio, o céu e o mar
Protegendo o equilíbrio ecológico
Da terra, fauna e flora
Pois na sua história, o índio
É o exemplo mais puro
Mais perfeito, mais belo
Junto da harmonia da fraternidade
E da alegria,
Da alegria de viver
Da alegria de amar
Mas no entanto agora
O seu canto de guerra
É um choro de uma raça inocente
Que já foi muito contente
Pois antigamente, todo dia, toda hora, era dia de índio".
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Olimpio Guarany é jornalista, economista, publicitário e professor universitário


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