O futebol brasileiro vive uma
crise técnica. Aquele futebol, jogado por Pelé, Garrincha e companhia, que
encantava o mundo inteiro, não é mais visto em nossos campos. Mas os Jogos do
Xingu 2015 estão mostrando que entre os indígenas o futebol ainda é uma arte
Meninas jogam futebol na aldeia Kuikuro
A geração da época de Pelé e a geração da época de Zico,
jogou em campos de terra, a famosa pelada, o futebol brincadeira, o futebol
arte. Hoje os clubes existem para formar jogadores em um sistema profissional e
disciplinado. Porém, no Parque Indígena do Xingu, os campões ainda são de
terra, e apesar de todos quererem vencer, o futebol ainda é uma brincadeira,
jogado mais pelo prazer do jogar do que pelo prazer de ganhar. É o futebol da
habilidade, jogado por Pelé e por Zico.
Essa é a opinião do especialista em políticas públicas e
gestão governamental do Ministério do Esporte, José Ivan Mayer de Aquino,
presente nos Jogos do Xingu 2015, que acontecem na Aldeia Kuikuro de 15 a 19 de
julho. O especialista representou o ministro do Esporte que não pode vir até o
Xingu porque está acompanhando a delegação brasileira no Pan-americano em
Toronto, no Canadá.
Conforme José Ivan, pesquisadores alegam que o futebol foi
criado através de práticas corporais indígenas dos séculos XV e XVI. “Então ele
está incorporado na cultura indígena na elaboração que os ingleses deram e num
modo brasileiro de se apropriar desse esporte. Em todas as aldeias que a gente
vai sempre tem um campo de futebol”, disse.
Para o especialista, os não indígenas foram reorganizados
para o futebol com o crescimento das cidades e a prática ficou restrita aos
clubes, que condicionaram o futebol a uma lógica de mercado. “Diferente da
minha época, jogado pé descalço, no asfalto, na quadra, na grama, na terra e
éramos bastante felizes no tempo do Garrincha e do Pelé”, disse.
A seleção brasileira já teve alguns indígenas defendendo as
cores verde e amarelo. O mais famoso deles foi Garrincha, o ‘Anjo das Pernas
Tortas’. José Ivan espera ver novamente jogadores indígenas na seleção, porque
“O futebol indígena manteve o ímpeto da brincadeira e da condição física dos
atletas. Então hoje o futebol, na minha visão, com meus 62 anos e que transitei
como peladeiro, vejo nessa aldeia a vontade que eles jogam, a aplicação, a
alegria, o interesse e o entusiasmo, onde reside o bom futebol brasileiro... Os
fundamentos básicos, essenciais, estão mantidos entre os povos indígenas...
Eles têm as valências esportivas e habilidade motora”, complementou.
Futebol feminino também
em alta
Entre os indígenas, o futebol também é bastante praticado
pelas mulheres. Para o Ministério do Esporte, há um grande interesse no incentivo
do futebol feminino. O que deve ajudar nesse crescimento, é a aprovação da MP
671/2015, que dá uma nova organização para o futebol brasileiro e um dos pontos
é o fortalecimento do futebol feminino como prerrogativa para abatimento das
dívidas dos clubes. “As mulheres indígenas estão praticando futebol e com
grande qualidade e muito empenho”, disse.
José Ivan comunicou que durante os Jogos do Xingu 2015 será
lançada a primeira etapa da 1ª Copa Brasil Indígena de Futebol Feminino, o qual
terá fases locais, territoriais e nacional. Do Xingu será formada uma seleção
territorial, que competirá com outras 16 seleções territoriais do Brasil a fase
nacional, a ser disputada em março do ano que vem, provavelmente em Porto
Seguro na Bahia.
Próximos Jogos do
Xingu
José Ivan disse que o Ministério do Esporte está vendo os
Jogos do Xingu 2015 com profunda admiração e respeito pela coragem da
Prefeitura de Canarana e dos povos indígenas do Xingu, “que ao realizar esses
jogos nos dá oportunidade de conhecer as várias modalidades de esporte indígena
e modalidades ocidentais praticadas com o olhar indígena, e nos permite
conhecer em loco a aplicação dos recursos que o Ministério dispensou para essa
atividade. Como o dinheiro foi muito bem aplicado, irá abrir horizontes para a
gente trabalhar com a pratica de esporte e lazer indígena”.
O representante do Ministério do Esporte explicou que no mês
de abril passado foi realizado em Cuiabá-MT o Fórum de Políticas Públicas de
Esporte e Lazer Indígena (Fopelin), onde foi sugerido a criação da comissão
nacional de esporte e lazer indígena, confederação brasileira de esporte
indígena, federações territoriais de esporte indígena e ligas de esporte
indígena, entre outras.
Para orientar os indígenas do Xingu a criarem ligas e uma
federação, será realizado durante os Jogos do Xingu 2015 oficinas ministradas
por José Ivan, para que as aldeias façam os próprios projetos esportivos.
“Creio que vamos ter no desdobramento desses jogos a certeza que esse recurso
já rendeu frutos muito importantes na possibilidade de auto-organização e com
isso antevejo a possibilidade de reeditar os jogos. A minha fala para o
ministro será mais animada que os relatórios e vou dizer que vejo com muito
bons olhos”, garantiu.
Outro objetivo da oficina será orientar os indígenas na
documentação de práticas esportivas indígenas como o huka huka, colocando a documentação no formato de uma olimpíada
territorial de redações em línguas indígena, onde essas práticas serão escritas
na língua nativa e também em português, bem como fotografadas e desenhadas,
para formar um grande livro que irá facilitar a transmissão desse conhecimento
aos professores indígenas e não indígenas.
(Por Assessoria dos Jogos do Xingu 2015)
Babalu mostra para José Ivan artesanato produzido por ela